quarta-feira, 11 de maio de 2011

ACERCADASCHUVAS II

ACERCADASCHUVAS II

Mas o lindo pra mim é céu cinzento,
Com clarão entoando o seu refrão,
Prenúncio que vem trazendo alento,
Da chegada da chuva no sertão.

(Gonzaguinha)

Lá, quando o céu fica da cor de chumbo e o vento vem varrendo, a gente diz que tá "bonito pra chover". Aqui, que é mau tempo. Lá, as águas são saudadas com festa de meninos correndo nas ruas. Tomar "banho de chuva", ficar debaixo da bica da igreja que, de tão forte, bate no quengo e deixa tonto. Lá, faz-se novena a São José (dia 19 de março), pedindo pra que ela venha, muita, forte. Aqui para que ela não venha que já tem água demais. E por vai uma ruma de diferenças acercadaschuvas entre lá e cá.
no ano de 2009, compus as letras e e músicas de um  CD, "CANÇÕES DO MILLHO -

http://www.new.divirta-se.uai.com.br/html/sessao_19/2009/06/16/ficha_musica/id_sessao=19&id_noticia=12288/ficha_musica.shtml

com arranjos de Cláudio Almeida e interpretado por Sevy Nascimento (à venda na Passadisco Parnamirim), em que eu recito um poema chamado Gênese. Meu ponto de vista sobre as chuvas.

O mormaço nunca o vi.
Só o sinto como agora.
Diz a ciência que é
gota d`água que evapora
que se transforma em nuvem
e como chuva ela chora.

A chuva afaga o lajedo
até deixá-lo macio.
Depois corre barulhenta,
é correnteza no cio.
Quando se entrega ao riacho
engravida e pare um rio.

O rio então se desgarra
mundo afora  inundar
vazantes, roças, barragens,
até um dia encontrar
cova de água salgada
aonde vai se enterrar.

Aí, a fartura dá no meio da canela!

terça-feira, 10 de maio de 2011

ACERCADASCHUVAS

ACERCADASCHUVAS
Chuva leva essa tristeza
Deixa o passado pra quem não sai de lá
(João Menelau - o vício - Banda Semente de Vulcão)


A cidade onde moro é anfíbia. Não é não? Foi roubada das águas dos rios Capibaribe e Beberibe e de mais um cardume de córregos e riachos. Foi ou não foi? Foi roubada dos mangues, das várzeas. Foi não? Expulsamos os siris, os caranguejos, soterramos tudo. Ãh? E então? Barragem de Tapacurá, Carpina? Empatando o caminho natural das águas pro mar. Não estão? Um poeta alemão, Bertold Brecht, vendo coisas parecidas na vida e na natureza escreveu: "Do rio que tudo arrasta, diz-se que é violento. Mas ninguém chama violentas às margens que o comprimem". Pronto. Matou a charada. Não vou escrever mais nada depois desta. Vou só transcrever uns versos que escrevi  e publiquei no num livromeu, "Um Espaço de Ausência", no ano de 1981.
CÍCLOS
E o sol bate
e cora toda zona sul
e faz bronze
das carnes doiradas
de olhos azuis
de gringos falando blues
e vai batendo, batendo
engole a roça de João
e tange a raça de João.
E cai a chuva
e lava as ruas do centro
e eu sinto o cheiro da chuva.
E vai caindo, caindo
derruba os barracos do morro
invade as palafitas dos mangues
e eu sinto o cheiro de mofo
e eu sinto o cheiro de lama
e eu sinto cheiro de sangue.
E  eu nunca mais vi João.

FIM